Vênus de Milo: celeuma secular acerca da autoria
Dizem que os ditados populares carregam uma sabedoria que nos passa desapercebida. No meio de uma conversa se a alguém dispara “conto o milagre, mas não conto o santo”, logo percebemos que o objetivo é proteger o autor ou a obra.
Vários motivos cercam este objetivo, pode ser para proteger o "santo", ou o "milagre" de críticas e desafetos ou o “milagre” não é daqueles muito "cristãos", ou simplesmente é uma surpresa que só deve ser revelada pelo “santo”. Mas uma coisa é certa, geralmente o conteúdo do milagre deve ser peculiar, avassalador, que cause espanto e um coro de Ohhhhs, Humns, acompanhado de uma curiosidade desesperadora de saber quem foi o "santo"...
Certa feita, em uma entrevista, um artista contou uma história/parábola moderna em que crianças e seus pais visitavam um museu, o artista em exposição havia se suicidado há pouco, as crianças estavam sorrindo, felizes e maravilhadas com sua obra, enquanto seus pais perambulavam no museu como se estivessem num velório.
Nesse sentido, devemos ponderar acerca desse mundo de superexposição, em que as pessoas se submetem e são submetidas compulsivamente. A inversão de paradigma leva as pessoas a se interessarem mais pela vida do artista do que por sua obra, chegam até a valorar a obra dependendo do comportamento de criador.
A arte é cada vez mais associada ao comportamento privado do artista, deveria existir uma bolha que tornasse a arte intacta, ou então um mecanismo social igual a de uma tribo indígena matriarcal, em que ninguém sabe quem é o pai da criança, portanto todos são responsáveis em resguardar sua integridade física e intelectual.
Por outro lado, a obra transcende a existência do autor, em muitos casos há obras que somente recebem a atenção e o valor merecido após a morte do autor. Isto acontece, quando ele transgridem os valores sociais da época, muitos sucumbem a pressão social e procuram fugir se drogando e até mesmo cometendo suicídio. Entretanto, a importância de sua obra transcende as questões pessoais do autor e neste caso o "milagre" se perpetua independente das atitudes do "santo".